segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Partir

Que sejam menos frias as minhas horas
Agora que ja 'e hora de partir
Eu vim para ver outras paisagens
As paisagens que eu vi
Continuarao aqui
Quem se move sou eu
Fantasiando as mais lindas viagens
Rodando e sempre distante

A beleza
Quando tudo me parecia um sonho
perguntei
e a vida real, onde esta?
a beleza
de momentos leves, ausentes
era eu quando me sentia onipresente
dona do mundo
em uma viagem
quando tudo parecia irreal
quando a vida parecia miragem
pergunto
fui eu quem mudou, agora?
ou a vida me fez assim
sem demora
para que dentro da memoria
se guarde
nada mais do que a visao de tudo o que foi
vivido e possivel
o meu sonho de ver o mundo
quando tudo se move
parece tao longe
Eu vim pela sede de liberdade
E agora
longe do extase da chegada
ainda sem sentir o gosto
da pagina virada
sei que
livre 'e a cidade
a torre
as pontes
e a vida que aqui vivi
Livre 'e tudo o que ficou para tras
imutavel
estatico no caminho do tempo
Mas livre eu nunca serei
pois ainda tenho de partir
Livre eu nunca serei
pois hoje estou a partir.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre o "timing" perfeito.

Eu, pessoa incrivelmente cética frente aos believes mundanos, sempre acreditei que as coisas tem um timing perfeito. É tão engraçado saber quando algo vai acontecer ou quando algo vai dar certo... Sempre exigiu um certo esforço, é claro, mas eu sempre simplesmente soube.
Coisas bestas, como por exemplo: sabia que ia conseguir estudar na faculdade que eu queria, mesmo depois de não passar no vestibular.
sabia que ia conseguir fazer meu intercâmbio pra Londres, mesmo sabendo todo o esforço financeiro e de organização que isso traria.
sabia que a vida não iria me decepcionar, não por crer na existência de um "Deus" ou "força maior", mas por simplesmente enxergar os objetivos de uma maneira bem clara, que para mim seria sofrido demais encarar o fato de que eles poderiam não ser alcançados.
o tipo de sonhadora ao estilo Amélie Poulain. ou ao estilo do personagem principal do "Noites Brancas", do Dostoiévski.
Valeu a pena encarar a depressão na infância, e me esconder dentro dos livros e da escrita quando eu não podia ter nada mais.
Agora, a depressão é o que não tenho mais: tenho amigos, tenho vida, não tenho mais que me sentir terrivelmente amargurada com a minha aparência ou com o sentimento de inferioridade que tanta gente tentou me passar o tempo inteiro. Só quem foi uma criança gordinha que queria sumir a cada segundo do dia sentindo que a vida inteira ia ser a mesma merda sabe o que eu quero dizer. E, então, no meio da minha depressão, com nove anos, eu descobri que podia escrever. Os livros já existiam na minha vida há muito tempo, desde "pippi meia longa" até a Linéia do Monet. Achava tudo muito mágico.
Comecei a escrever versinhos bobos de criança. Com 11, começaram a sair poesias. Algumas foram publicadas no jornal de Rio Grande. Eu era uma criança. Mas sabia que aquilo ia dar em alguma coisa. Me imaginava, mais velha, como uma escritora. Tinha certeza absoluta que era isso que eu ia ser, como se fosse inevitável. Sabia, também, que, de alguma forma, eu ia dar um jeito de não ser infeliz para sempre, que eu poderia ter uma vida "normal" como a das outras meninas se quisesse. Que eu poderia ter a aprovação das outras pessoas, e não só a repugnância. Mas sabia que nada disso tinha pressa, porque as vida leva seu curso naturalmente (não sem esforço).

Embarco para Londres daqui a 4 dias, prestes a deixar toda uma vida por aqui. E o quão perfeito foi receber essa notícia, agora, de que o meu livro não só vai ser publicado, mas que foi aceito pelo Instituto Estadual do Livro que é, meu Deus, mais que uma editora, mas o sonho de qualquer pessoa?
E se a notícia viesse em Londres, e eu não pudesse ver a cara da minha mãe emocionada e me abraçando? Não seria a mesma coisa.
Sempre vem no momento certo. Posso não acreditar em Deus, nem em amor - certamente estou longe de acreditar em amor, ou em vampiros que brilham no sol, ou achar que a vida é um belo morango brilhante como algumas pessoas sinceramente acham, MAS eu acredito muito que coisas maravilhosas acontecem quando você acredita nelas.
"É um tempo difícil para os sonhadores" - Amélie Poulain.
Por algum motivo, para mim nunca foi!

domingo, 20 de novembro de 2011

A insustentável leveza do ser

"O drama de uma vida sempre pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo nos ombros. Carregamos esse fardo, que suportamos ou não, lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. O que precisamente aconteceu com Sabina? Nada. Deixara um homem porque quisera deixá-lo. Ele a perseguira depois disso? Queria se vingar? Não. Seu drama não era o drama do peso, mas da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."

Milan Kundera

terça-feira, 15 de novembro de 2011

o quarto

Enxerguei-te pela primeira vez numa manhã de sol. A vida que pulsa por trás do mundo nunca me pareceu tão próxima: toda a energia que houvesse estava em você. Enxerguei-te, pela primeira vez, naquela manhã. O quarto escuro nos abrigou, o dia raiava e exalava lá fora.
Amanheci sem pudor, sem amarras ao passado nem a nada além desse momento. Você abriu os olhos, delicadamente, convidando-me a ser teu. Mais uma jornada de imersão nos teus sonhos: os teus sonhos tão intensos que continham mais beleza que a minha vida inteira. Lembraria de você durante toda uma eternidade pela forma como te vi naquela manhã.
 Quis perder-me nessas horas e não voltar, quis que pudesse haver uma forma de fazê-las eternas, contra a intransponível barreira do tempo que um dia faria tudo desaparecer. Que o desgaste não nos atingisse jamais, que ficássemos entre essas paredes, longe das janelas, e para sempre aqui nesse vazio cômodo. Que o afeto não se fosse, que os teus olhos não se acabassem longe dos meus, que o certeiro caminho do afastamento não se pusesse entre nosso êxtase.
Ficaria dentro desse quarto, preso e quieto, se isso me garantisse continuar aqui sem findar, nunca chegando à ultima linha da reta, num último suspiro sem pensar - por que não pude nos prender aqui antes que a vida viesse a interromper nossa fantasia? E tudo pareceu tão real, o tempo todo parecia real, teu corpo e teus gestos, cada movimento simples que te aproximava de mim, toda a vida que eu havia ganho em um segundo, a vida que pareceu tão densa em mim naqueles momentos como jamais havia sido. E, agora, tudo me foi tirado, tudo se foi contigo dissipando-se pelas horas e deixando ir, deixando ir numa constância de ir embora que chega a apavorar.
Longe do quarto, da tua voz e da tua memória, longe e apagado de tudo, busco por qualquer pequeno resquício de intensidade que possa haver por aqui, queria ter nos trancado para sempre naquele quarto, queria que o quarto fosse nosso habitat eterno, queria que não existisse nada nunca além do quarto, nenhuma outra pessoa na vida inteira alem de você, que tudo fosse tão seguro e o tempo não viesse, a vida não viesse trazer o irremediável. Não podemos ficar ali, continuar ali, esperando que nunca passe, que nada passe? Eu ficaria olhando o teu rosto e dormiria tranquilamente a cada dia sabendo que você ainda estaria verdadeira e viva perto de mim.
Meus dias entristecem-se na tua lembrança. Ouvi tua voz ao longe, em minha mente, agora que já estás tão distante. Uma distância mais intrínseca do que física, agora que os teus sonhos não conheço mais. Quem és tu, não sei mais. Visualizei, em alguma dimensão muito parecida com um delírio, um sorriso que me dizia que tudo ficaria bem, que essa sensação de angústia de fim de tarde iria passar. Que a sua aparição no meu triste roteiro, que de comédias ou romances já carece, nada mais foi que um ponto de luz no meio do breu. Para que ainda houvesse esperança, você me dizia. Que eu guarde a tua imagem, vívida e real em mim, não como uma memória ou um fantasma, mas como uma parte da história a ser levada, a ser carregada comigo como se não houvesse o tempo, como se não houvesse o fim. Que não deixe morrer as nossas palavras, que não deixe que morra nada, e, nessa visão, você me implorou que não deixasse abandonar o teu corpo deitado sob o meu na cama. Que eu revivesse a cada dia a parte sua que ficou em mim, que a levasse junto, que esquecesse todo o resto e enfim repousasse em paz.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Já tinha desistido disso aqui, da vida, do amor, de todos os clichês que se possa imaginar. Uma existência quase autêntica era a minha próxima utopia, pena que não durou.
Desisti de fazer terapia.
Desisti de tentar achar as pessoas interessantes (principalmente aquelas que não se interessam pela minha escrita). É muito fácil se iludir.
De qualquer forma, algo me fez acordar para a vida. Estava limpando minha caixa de e-mail quando achei um e-mail perdido, no meio do ano passado, de um desconhecido que leu um conto meu logo que eu postei. Eu havia postado uma primeira versão, que depois revisei e aumentei bastante, mas, mesmo assim, a essência estava ali. Aquele e-mail foi a coisa mais linda e encorajadora que alguém já me disse, e eu sequer conheço essa pessoa. É estranho pensar que desconhecidos podem se identificar mais com você do que seus amigos, seu namorado, quem quer que seja. É engraçado pensar que pessoas que não te conhecem vão se interessar e vão ler algo até o fim – e ainda chorar e se preocupar em te mandar um e-mail, enquanto aqueles que convivem com você todos os dias sequer fazem questão de te conhecer.
Eu estava quase beirando a desistência, ainda mais tendo em vista que o IEL ainda não publicou os resultados (e o recebimento de originais finalizou em julho!).
Desistir é muito mais fácil. Mas quando você tem um livro pronto, dois contos para um novo livro, um e-mail lindo na sua caixa-de-entrada e a lembrança de uma menininha de 9 anos com um caderno azul pensando “vou ser uma baita escritora quando eu crescer!!”, como se houvesse uma bolha entre mim e o mundo que só consegue se romper através da escrita, quando você tem tudo isso fica difícil pensar em desistir.

"
Nessa dimensão repleta de possibilidades que chamamos de futuro, eu vejo tudo como na estrutura de sonho, ou delírio, uma coisa sem cores concretas, só borros indistinguíveis. Mas é tudo tão bonito. Não há cores, mas há a claridade. Eu sei que tem sol, em um céu de algum lugar que desconheço, e sinto que há movimento, e dentro desse movimento algum sentido – e não é isso que chamamos de vida? Com a claridade, a clareza das idéias. Se tudo é tortuoso e as idéias não se constroem no presente, no futuro há o sentido. Algum sentido, qualquer sentido, uma seta que aponta para lá, até lá, bem longe – o infinito?
Sou um ser calado, uma existência que não se pronuncia durante as horas. Um movimento de vida sorrateiro, pequeno, impercebível. Sou tão cru quanto uma folha de árvore deixada sob o chão, sim, uma folha leve e abandonada, caída pela terra sem poder ser livre, sem poder voar. Sem poder algum. Satisfaço-me daquilo do outro, da riqueza e da beleza que há no outro, nos lugares, nas paisagens, naquilo que me parece tão cheio. O mar me parece cheio. A vida me parece densa em outras esferas. Em todas as suas faces, exceto na minha: a minha face é vazia, a minha face não se enxerga. A realidade parece escapar a cada segundo, como se qualquer movimento equivocado pudesse me fazer regredir. Quero tanto me construir no outro ao mesmo passo em que quero ser só.
Na solidão não há beleza, embora nela resida uma riqueza imensa. No entanto, a beleza não, ela está é nas horas construídas com algum intuito. Aquelas palavras que são ditas carregadas de alívio e que fazem latejar alguma coisa dentro de nós. Aquilo que precisa sair, em forma de sentimento exposto, abrindo o caminho para as feridas, inúmeras feridas, e uma nova ardência que virá a incomodar a cada hora de cada dia. Mas é melhor que saia, é preciso aliviar, é preciso dizer. Na solidão, nada disso é possível. Essa troca, esses olhares – que se toquem ou não os olhos, e que se toquem ou não as mãos, os corpos e mais do que tudo as almas, é o momento construído aquele que iremos recordar mais tarde. Na solidão, horas vazias e sem sentido. E que ajudam a modelar aquele sentir que há por dentro, e que direcionam a mente para algum ponto específico, sim, é tudo isso nas horas sozinhas. A reflexão profunda e a imersão para dentro desse sentir ardente, somente nos momentos sem ninguém. Só o eu puro, cru, bruto ali. O eu sem personagens. O eu que não precisa fingir para ninguém, aparecer nem demonstrar nada, pois está tão terrivelmente só que quase não se enxerga. É esse eu, aquele que ninguém vê, o que realmente somos  "



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Como desaparecer

   O que estamos fazendo, agora e o tempo todo, senão nos enganando? Senão tentando esquecer, não apenas esquecer, mas tentando desaparecer, tentando voltar para o nada ao qual pertencemos? Sim, meu bem, nós começamos do nada: um espaço vazio bem longe dessa confusão, e é a ele que tentamos recorrer. Você não consegue enxergar o mesmo que eu. Você quer encarar a vida de frente, eu quero fugir. Você quer atingir um ponto, eu quero buscar sem rumo esperando nunca atingir chão algum.
   Só o que há de verdade nisso tudo são essas últimas palavras, não são palavras de consolo ou de conforto, não são mais mentiras ou eufemismos nem formas de tentar encobrir qualquer coisa, não são formas de se policiar ou de se adequar à sociedade, não são formas de querer entender a humanidade, te digo, agora, que estou pouco me importanto com a compreensão, ou com palavras falsas na esperança de que vá doer menos. A vida não faz isso com você, ela não tenta te confortar para que vá doer menos. Por que pensar que deve-se fazer isso com os outros? Vai doer de qualquer jeito, um dia a dor se apaga e você vai lembrar apenas daquilo que restou de mim em você. Talvez seja pouco, talvez não seja nada. Quem de nós dois está estático no mesmo lugar, buscando tanto entendimento que esqueceu de buscar a vida? Eu te digo que a vida não irá fazer nada por você. O que sei é que estou indo, até desaparecer completamente na neblina que você deixou em mim.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Moléculas

Desfaziam-se os diversos chãos de minha obsessão, baseada em histórias que nunca ocorriam e que, incapazes de buscar um teto concreto, explodiam-se em pó, resumindo-se a nada. O que um dia foi ilusão, agora seria desilusão.
Como moléculas que nunca se juntavam, de tão distintas que eram, pondo-se lado a lado não se colavam. Como dois destinos que jamais se encaixam, ou olhos que, por mais que se encarem eternamente, nunca se encontram; corpos que, independente de quantas vezes se encostem, são incapazes de sentir o outro. Como a vasta distância que separa, mas que une. Minha razão dissipou-se com o mesmo ar que respiro, e que um dia virá também a fugir de mim.
Era tudo uma mentira. Eram as minhas especulações. Era uma dimensão fantasiosa, com alguém que não era eu, porque aproximava-se da perfeição. Nada seria perfeito, nesse mundo real. As nossas essências não se comunicam. Eu achei que poderia amar alguém, mas pouco sei diferenciar amor de dor. As moléculas se desfizeram. A minha idealização, em um universo bem distante deste aqui, rachou. Rompeu. Eu não pertenço a você. Tampouco pertenço a mim. Ansiaria mesmo é ir para o mundo perfeito que eu vi, que enxergo todos os dias antes de dormir, em alguma realidade qualquer.





(nov/2008)